sexta-feira, 30 de abril de 2010

Chineses que exportam para o Brasil lucram com real valorizado

A valorização do real em relação ao dólar deu impulso aos negócios de empresas especializadas na exportação de produtos chineses para o Brasil, que ampliam escritórios, contratam pessoas e esperam movimentação recorde no próximo ano.

Após um período de retração entre novembro de 2008 e meados de 2009, quando o dólar superou R$ 2,00 e se aproximou de R$ 2,40, a busca por produtos chineses reagiu com força a partir de agosto, depois que a cotação caiu a menos de R$ 1,90. A procura aumentou mais ainda em outubro e novembro, com o dólar na casa de R$ 1,70 a R$ 1,80.

"O câmbio influencia um absurdo. Quando passou de R$ 1,80, os clientes voltaram com força. O empresário brasileiro criou uma referência de que o dólar a R$ 1,80 é bom para a importação", diz Frederico Clementi, dono da trading Globalize, aberta em 2005 na cidade de Xangai.

Segundo ele, houve aumento da procura por todo o tipo de produto e mudança no perfil do comprador. "A China se popularizou. Antes vinham clientes grandes, com mais capital. Agora, vem todo mundo. Tem gente que vem comprar US$ 4 mil a US$ 5 mil de mercadoria." Depois do início da crise, em setembro de 2008, os clientes de Clementi passaram a comprar máquinas na China para fabricar o produto final no Brasil, já que o câmbio desestimulava a importação de bens acabados.

Com a recente valorização do real, a situação se inverteu. "Agora, ninguém está importando máquinas, todo mundo quer produto acabado", observa Clementi, que espera realizar contratos no valor de US$ 30 milhões a US$ 35 milhões em 2010, acima dos US$ 20 milhões previstos para 2009 e dos US$ 25 milhões de 2008. A Globalize se mudou em julho para um escritório de 4 mil m², onde funciona a trading, com 20 funcionários, e uma fábrica de embalagens, que emprega 15 pessoas.

O presidente do escritório de engenharia e controle de qualidade Simerx, Henry Osvald, acredita que poderá exportar US$ 36 milhões para o Brasil no próximo ano, uma alta de 24% em relação ao recorde de US$ 29 milhões que movimentou em 2008. O câmbio será o fator decisivo para o aumento. Osvald avalia que a importação do produto acabado é vantajosa com o dólar até R$ 2,00 e se torna inviável quando ele chega ao patamar de R$ 2,40.

Na China há seis anos, a Simerx trabalha com peças para automóveis e motos, além de máquinas e ferramentas. Com algo entre 25 e 30 clientes, Osvald recebe desde agosto uma média de 20 consultas mensais de potenciais compradores e acaba de contratar cinco pessoas para atender ao aumento da demanda. O escritório na China agora tem 17 funcionários, dos quais 6 são engenheiros brasileiros.

Li Yong Hong abriu sua trading, Yafela, há menos de três meses, e já tem US$ 20 milhões em embarques garantidos para 2010. Mas acredita que poderá chegar a US$ 50 milhões. "Quase todos os dias recebo uma consulta nova de pessoas interessadas em importar da China, dos mais diferentes setores, como químico, material de construção, têxtil, confecção e máquinas." A Baumann é outra empresa que cresce graças ao aumento dos embarques, mas não apenas para o Brasil. Depois de enfrentar a redução dos negócios no período de valorização do real, que persistiu até a metade do ano, a consultoria decidiu intensificar seu processo de internacionalização.

Atualmente, possui clientes em 13 países, mas o Brasil responde por 65% das exportações de US$ 100 milhões projetadas para 2009. Em seguida aparece o Paraguai, para onde a Baumann acaba de despachar um único pedido de televisões no valor de US$ 4,5 milhões.

O diretor executivo da Baumann na Ásia, Renato Castro, ressalta que o aumento da procura decorre da valorização das moedas em relação ao dólar, mas também da melhora da situação econômica dos países compradores. "A América Latina e os países árabes estão reagindo bem."

Além das consultas que recebe de potenciais clientes, o termômetro de Castro é a Feira de Cantão, realizada nos meses de abril e outubro e na qual a Baumann tem um estande. "A língua mais falada na última feira era o espanhol, seguida do árabe", lembra o empresário.

Com operações na China desde 2004, a trading Comexport registra desde agosto aumento de 30% em seu volume de negócios em relação ao patamar anterior à crise, segundo sua representante no país, Marcela Gomes.

"A valorização do real se reflete quase que automaticamente no aumento das importações, tanto em termos de volume quanto de diversificação de setores e clientes", observa Marcela, que não revela quanto a empresa espera movimentar neste e no próximo ano.


Por Agência Estado (AE)

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