quinta-feira, 29 de abril de 2010

Riscos Comerciais nas Operações de Comércio Exterior

OS RISCOS COMERCIAIS NAS OPERAÇÕES DE COMÉRCIO EXTERIOR

2ª Parte
* Cláudio Luiz Gonçalves de Souza

SUMÁRIO

4.0 – DOS RISCOS COMERCIAIS NAS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO

4.1 – Da Remessa de Pagamentos Antecipados

4.2 – Da Capacidade de Produção do Exportador

4.3 – Da Continuidade das Atividades do Exportador

4.4 – Da Administração dos Riscos Comerciais nas Operações de Importação

4.4.1 - Do Levantamento e Análise de Informações sobre a Empresa Exportadora

4.4.2 - Das Modalidades de Pagamento nas Operações de Importação

5.0 - QUADRO DEMONSTRATIVO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS DE MININIMIZAÇÃO DE RISCOS NAS OPERAÇÕES DE COMÉRCIO EXTERIOR.

6.0 - CONCLUSÃO

7.0 - BIBLIOGRAFIA



4.0 – DOS RISCOS COMERCIAIS NAS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO

Um conceito básico de importação poderia ser apresentado como sendo uma operação de relação de trocas entre países e/ou empresas distintas de países diferentes, no que tange à entrada de mercadorias versus a entrada de divisas.

Tirante o aspecto conceitual, uma operação de importação trata-se de uma atividade comercial , que assim como a operação de exportação, exige da empresa importadora uma série de providências e cautelas.

Nas relações comerciais sempre deverá existir um comprometimento das partes para que a operação seja concluída com sucesso. Assim, o fornecedor deverá oferecer o produto ou o serviço, da maneira em que foi demandada pelo importador, que por sua vez deverá agir com a máxima presteza em efetuar o pagamento da forma que foi estipulada.

Com efeito, existem alguns riscos que são enfrentados pelas empresas importadoras, que por sua vez devem tomar bastante cuidado antes de tomar sua decisão de importar a mercadoria de determinado fornecedor.

Dentre os riscos e cuidados que a empresa importadora deve estar sempre alerta, podemos destacar os seguintes aspectos:

· Cuidado na remessa de pagamentos antecipados;

· Análise prévia da capacidade de produção do exportador;

· Verificação da continuidade das atividades da empresa exportadora.

4.1 – Da Remessa de Pagamentos Antecipados

A remessa de pagamentos antecipados constitui um dos principais riscos, ao qual a empresa importadora está sujeita.

Com efeito, enviar pagamentos antecipados para exportadores no exterior, antes mesmo das mercadorias serem embarcadas pode ser um risco muito grande para a empresa importadora, uma vez que tal prática, teoricamente, somente deveria ser adotada entre empresas do mesmo grupo econômico ou que possuam um relacionamento comercial há mais tempo, o que permite transações comerciais confiáveis.

Destarte, é necessário um pleno conhecimento do perfil da empresa exportadora, com a certeza de que a mesma é comercialmente idônea e, que por conseqüência, atenderá às exigências da empresa importadora e enviará as mercadorias dentro dos prazos e condições pactuadas.

Por se tratar, na maioria das vezes, de valores significativos nas operações comerciais, o risco dessa modalidade não pode ser desconsiderado pela empresa importadora. Ademais, na hipótese da operação não se concluir, uma série de outros problemas poderão surgir para a empresa importadora, de acordo com a dependência ou destinação a ser implementada às mercadorias objeto da operação de importação.

4.2 – Da Capacidade de Produção do Exportador

A empresa importadora no processo de desenvolvimento de um fornecedor estrangeiro, deve considerar a idéia exata do grau de comprometimento que a empresa exportadora deverá ter com a sua operação, o volume demandado, assim como as características das mercadorias e as especificações da mesmas.

Não obstante, para que todos estes aspectos possam ser cumpridos pelo exportador, o mesmo deverá ter as condições e capacidade de produção necessárias para o que está sendo requerido pela empresa importadora possa ser efetivamente atendido.

Sendo assim, o relacionamento comercial entre a empresa importadora e o exportador poderá intensificar, fazendo com que as mercadorias importadas aumentem ou melhorem a capacidade produtiva do importador, o que repercutirá no aumento da demanda novamente.

Para tanto, a empresa importadora deverá ter conhecimento da capacidade de produção da empresa exportadora, avaliando se a mesma está apta ou não para atende-lo a contento, e se tem condições de suportar um possível aumento das suas necessidades.

Referida situação se aplica tanto a bens de consumo quanto a bens de capital. No que se refere à capacidade de produção, os riscos nas operações de importação de bens de capital é ainda mais elevado.

A empresa importadora deverá ter total conhecimento do fornecedor, e se o mesmo tem capacidade de atende-lo, porquanto máquinas e equipamentos importados requerem um comprometimento ainda maior da empresa exportadora, antes e depois do fornecimento.

4.3 – Da Continuidade das Atividades do Exportador

Para que as atividades da empresa importadora possam continuar fluindo, torna-se necessária a operacionalização contínua de seu fornecedor estrangeiro, uma vez que os fatores de produção estão diretamente interligados.

Quando se trata de operações de importação de bens de consumo, por exemplo, a empresa importadora procura desenvolver seu fornecedor, conquistar seu espaço no mercado, ampliar seus negócios, e para tanto poder continuar contando com o apoio de seu fornecedor.

Sendo assim, se a empresa fornecedora abandona o mercado, as conseqüências desastrosas são diretas para a empresa importadora, porquanto suas operações também poderão ser interrompidas.

Dessa forma, o conhecimento pleno da situação financeira da empresa fornecedora, das suas perspectivas futuras de desenvolvimento das atividades operacionais de produção, consistem em elementos fundamentais para determinação e desenvolvimento da empresa importadora.

Destarte, a relação exportador e importador repercute num considerável comprometimento das partes em relação a vários fatores, tais como assessoria, assistência técnica, partes e peças de reposição, garantias, entre outros aspectos.

4.4 – Da Administração dos Riscos Comerciais nas Operações de Importação

Consoante pudemos verificar anteriormente, os principais riscos comerciais existentes em uma operação de importação se manifestam por meio da remessa do pagamento antecipado, da capacidade de produção e pela continuidade das operações por parte da empresa exportadora.

Destarte, torna-se necessário buscar alguns mecanismos que possam contribuir no processo de redução ou até mesmo para evitar que problemas surjam no andamento das operações.

Sendo assim, devemos atentar para dois aspectos importantes, ou seja, o levantamento das informações e análise sobre a empresa exportadora, bem como as modalidades de pagamento na importação de mercadorias.

4.4.1 - Do Levantamento e Análise de Informações sobre a Empresa Exportadora.

Visando evitar os riscos supramencionados, da mesma maneira que nas operações de exportação, também na importação o principal mecanismo disponível para a análise e redução de riscos comerciais consiste no trabalho de pesquisa e levantamento de informações sobre o perfil da empresa exportadora.

Por meio do levantamento das informações, a empresa importadora terá disponível o perfil completo do exportador, tomando conhecimento sobre os mercados com os quais o mesmo já opera; o porte da empresa; sua capacidade de produção, a sua situação de ordem financeira, os principais clientes com os quais atua, entre outras informações não menos importantes.

Dessa forma, estando a empresa importadora de posse das informações acerca de seu fornecedor, poderá então tomar decisões seguras quanto a possibilidade de remessas de pagamentos antecipados, assim como sobre a necessidade de desenvolver um outro fornecedor para suprir a falta de capacidade de produção da empresa exportadora, ou ainda para substituí-lo na eventual ocorrência de paralisação das suas atividades, entre outras situações.

4.4.2 - Das Modalidades de Pagamento nas Operações de Importação

A escolha da modalidade de pagamento também representa uma outra alternativa, que pode ser utilizada pela empresa importadora, como forma de minimizar os riscos.

Com efeito, ao adotar uma carta de crédito, e nesta incluir todas as exigências que deverão ser atendidas pelo exportador, consiste em uma boa opção de evitar os riscos.

Não obstante, convém lembrar que a modalidade de carta de crédito, malgrado possa servir com um “contrato”, onde serão previstos todos os aspectos e procedimentos a serem observados pelo exportador; somente por meio da conferência dos documentos é que se terá a certeza de que todas as obrigações foram cumpridas.

Dessa forma, se a empresa exportadora apresentar todos os documentos que afirmam que as mercadorias foram embarcadas de acordo com o exigido, o banco efetuará o pagamento; sem que as mercadorias sejam inspecionadas, o que poderá repercutir em riscos quanto às especificações técnicas, qualidade, quantidade, forma de embalagem, entre outros aspectos inerentes aos produtos.

Destarte, a empresa importadora que necessitar de checar esses aspectos da operação de importação, para que os mesmos sejam efetivamente respeitados, deverá proceder a inclusão de uma cláusula exigindo a inspeção do embarque das mercadorias por meio de uma empresa especializada, assegurando dessa forma que a mercadoria seja embarcada de conformidade com o que foi ajustado entre as partes.

Uma outra alternativa a ser utilizada poderá ser também a modalidade de cobrança bancária a prazo; porquanto dessa forma, a empresa importadora terá a oportunidade de receber as mercadorias, conferi-las e, em momento futuro, efetuar o pagamento.

Existem ainda alguns outros instrumentos que também podem ser úteis, como por exemplo o” bid bond” , “performance bond” , “ repayment bond” , entre outros mecanismos para situações específicas.

5.0 - QUADRO DEMONSTRATIVO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS DE MININIMIZAÇÃO DE RISCOS NAS OPERAÇÕES DE COMÉRCIO EXTERIOR.

Por todo o exposto, após analisarmos alguns aspectos inerentes aos riscos comerciais nas operações de comércio exterior, apresentamos a seguir um quadro demonstrativo seqüencial de algumas providências que devem ser tomadas pela empresa, com o fito de minimizar os riscos em suas operações de exportação e importação:

Operação de Exportação


Operação de Importação

- Ao desenvolver um novo cliente, a primeira providências deve ser o levantamento cadastral e análise do mesmo.


- O primeiro passo é definir o perfil do fornecedor, de conformidade com as necessidades da empresa importadora.

- Uma vez efetuado o levantamento cadastral, o passo seguinte é proceder a definição das modalidades de pagamento seguras para operar com o cliente em questão, assim como os prazos e e limites de crédito possíveis.


- A remessa de pagamento antecipado somente deve ser feita para fornecedores que já mantêm uma relação comercial a mais tempo e seja de confiança, ou para empresas que sejam do mesmo grupo econômico.

- Na hipótese de um cliente tradicional, que sempre operou com a modalidade de carta de crédito, a mudança para uma outra forma de pagamento também deverá ser precedida do levantamento cadastral da mesma, e somente após a sua efetiva análise e avaliação, decidir pela alteração de conduta.


- Deve-se efetuar o levantamento cadastral para apurar o porte e a situação financeira do fornecedor, bem como sua capacidade de produção, oe mercados onde costuma atuar, seus principais clientes, entre outras informações relativas aos procedimentos de natureza comercial.

- Em ambas situações, seja para o cliente tradicional ou para o cliente novo, a adoção da modalidade de cobrança bancária como forma de pagamento, sempre deverá ser precedida de um levantamento cadastral, e dependendo do resultado da análise, a inclusão do cliente em uma apólice de seguro de crédito a exportação também poderá representar uma boa alternativa.


- Na hipótese do produto importado demandar grande comprometimento por parte do fornecedor, deve-se adotar a modalidade de carta de crédito e na mesma incluir uma cláusula de inspeção das mercadorias, com o fito de assegurar que as mesmas sejam embarcadas nas condições e especificações estabelecidas entre as partes.

- Deve-se manter sempre o cadastro do cliente atualizado, monitorando o seu histórico de pagamentos, a evolução dos seus resultados, a viabilidade de aumento ou a necessidade de uma redução de limite de crédito e prazos concedidos, para se evitar problemas inesperados.


- Sendo possível, por ocasião da operação de importação de mercadorias que necessitem seguir regras de especificação técnica, deve-se desenvolver um fornecedor que ofereça a possibilidade de pagamento sob a modalidade de cobrança bancária, porquanto dessa forma será possível tomar posse das mercadorias e conferir se as mesmas atenderam aos padrões técnicos estabelecidos.

6.0 - CONCLUSÃO

As empresas que atuam ou que pretendem desenvolver suas atividades de comércio exterior, atualmente encontram um cenário mercadológico mundial bastante diversificado e com uma concorrência extremamente acirrada, onde sobrevivem aquelas empresas que possuem competência, profissionalismo, qualidade, eficiência e criatividade.

Destarte, as empresas para ingressarem na prática do comércio internacional num mercado globalizado, precisa além de estabelecer um plano estratégico de produção, marketing, compra e venda de produtos, atentar para os riscos comerciais que as aludidas atividades encerram.

Em síntese, é necessário que as empresas tenham à disposição a maior quantidade de informações possíveis sobre seus parceiros comerciais, sejam os mesmos clientes ou fornecedores; porquanto somente por meio de referidas informações é que será possível estabelecer uma avaliação dos riscos existentes nas possíveis operações a serem realizadas, e no processo de negociação tomar todas as providências e cautelas pertinentes para a minimização, ou até mesmo, eliminação dos riscos.

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